quarta-feira, 14 de setembro de 2016

Esse mal que me atromenta

Acham que és um máximo: Uma lutadora, persistente e sonhadora.
Pensam que adoras: Viajar, conhecer pessoas novas, passear.
Mas não sabem quem tu és.
Nao conhecem aquela que te consegue fazer esquecer todos os objetivos.
Não conhecem o teu medo, a tua ansiedade.
No fundo sim, tu lutas e sonhas, tu persistes. Mas tu também te vais abaixo, tu choras e desistes...
Vivi recentemente uma fase da minha vida em que precisei lutar contra ela: a ansiedade que me assombra e enfraquece!
Tão perto de um objectivo e a querer desistir; tão perto de um sonho e a querer ser outra pessoa... alguém sem medos, ou alguém sem sonhos!
A noite é a maior inimiga e a solidão a sua companheira.
Sozinha nunca teria conseguido... sozinha eu nunca teria ido... pk por mais que eu quisesse lutar, ela estava sempre lá a dizer-me para parar.
Os pensamentos negativos invadiam a minha mente, as possibilidades de correr mal eram infinitas e a sensação de desespero parecia constante.
Tenho alguem que me incentiva e nunca me deixa totalmente sozinha. Tenho a sorte de ter alguém que mesmo não compreendendo não me deixa sofrer... não me quer ver a chorar. E esse alguém acredita que eu consigo. Basta isso pra eu acreditar... e quando eu acredito , eu consigo!
Tenho noção que a ansiedade me afetou e afeta, em fases mais complicadas da minha vida, mas também tenho a certeza de uma coisa: sou o que sou por causa dela. Ultrapassei obstáculos que me fazem sentir mais forte e lutadora.
Sei que no futuro numa situação idêntica vou voltar a passar pelo mesmo. Isso nunca irá mudar... mas eu mudei... porque me sinto mais forte.

segunda-feira, 15 de agosto de 2016

Uma carta de S. (sobre violência psicológica)


A violência contra a mulher nas relações amorosas aumenta de dia para dia:

Jovens e adultxs acham normal proibir as namoradas de sair com as amigas; "cuscar" as mensagens do telemóvel ainda mais normal é; usar decotes quando se é comprometide é quase uma traição, e insultar a companheira quando se está chateade é mais um acto comum...

Acho que nunca é demais o contacto com esta realidade.
Conhecer pessoas e as suas histórias, pode ser um abre olhos para muitas outras nesta mesma situação, um apoio, ou um simples "não estás sozinhe" .

A violência psicológica é muitas das vezes vista como "não tão grave" como a violência física, e talvez também por isso, muitas vítimas nunca cheguem a apresentar queixa.
No entanto, a realidade é que a violência psicológica deixa marcas irreversíveis e, por vezes, pode ser ainda mais grave do que a física, a qual também nunca vem sozinha.

Hoje tenho a carta de uma leitora, a qual vamos chamar de S.
Este um caso de violência mas também de libertação.

"Eu podia começar por dizer que este relacionamento começou como qualquer outro, mas a verdade é que não foi assim. Começou num cenário de infidelidade por parte da outra pessoa e, como eu digo sempre, não se pode construir nada de positivo e


duradouro em cima de alicerces podres.
Apesar disso, no início as coisas correram de uma forma relativamente tranquila. Não tardou muito até começarem os ataques de ciúmes da parte dela por causa de coisas que eu punha no facebook ou de comentários que eu fazia publicamente no meu mural. Chegou a um ponto em que começou a implicar tanto com algumas pessoas que estavam nas minhas amizades e eram mais participativas que me levou a bloqueá-las. Manipulou-me de uma forma que me levou a deixar de falar com toda a gente. Isolei-me de toda a gente e ela era a única pessoa com quem eu falava. Isto, claro, quando, ela tinha tempo pra mim porque sempre manteve o casamento e eu quase não podia estar com ela. Desde muito cedo ela me dizia que ia deixar o casamento, que não se sentia feliz e que queria ficar comigo. Fez-me acreditar que valia realmente suportar o sacrifício da espera. Só que comecei a achar que aquilo era só conversa e que ela nunca iria mudar a situação. Comecei a sentir-me como a típica amante que só se encontra às escondidas em quartos de hotéis manhosos. Comecei a sentir-me usada. Sentia que os planos de futuro dela não me incluíam. Nunca fizemos nada juntas. Nunca fomos ver montras, nunca fomos ao cinema, nunca fomos almoçar ou jantar fora juntas... nada. E comecei a cobrar. Comecei a exigir mais. E aí ela começou a rebaixar-me, a inverter os papéis. Dizia que eu lhe fazia a vida num inferno, simplesmente porque eu queria viver. Eu queria poder viver um amor pleno e não ficar apenas a viver dos restos de outra pessoa. Quando eu lhe dizia que queria sair mais de casa, que precisava de falar com pessoas, ela ameaçava terminar comigo. E eu acabava por ficar prisioneira de uma situação completamente doentia. E passava dias a fio em casa, sozinha, a mendigar mensagens de texto dela quando lhe apetecia mandar alguma. Fez-me sentir a pior pessoa à face da Terra, fez-me sentir que eu é que estava errada, que eu é que era nociva, quando na realidade era ela que estava a viver uma vida dupla, com um casamento e um relacionamento extra conjugal comigo. Acusou-me das piores coisas e vivemos um verdadeiro inferno de trocas de insultos e acusações por mais de 3 meses. Apaguei os contactos dela mas ela voltava sempre para mais acusações e insultos. Não me queria nem me deixava seguir em frente. Parecia que sentia prazer em me fazer mal. Em me humilhar. Até que por fim ela me disse coisas como "não és nada pra mim" e "foste a maior desilusão da minha vida". Isso realmente foi o ponto final de tudo pra mim. Ganhei-lhe uma raiva de morte e decidi nunca mais falar com ela. Ainda estou a reconstruir a minha auto-estima, que ela destruiu completamente. Não sei se algum dia amarei de novo, mas sei que não quero mais aquela vida pra mim." S.

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sexta-feira, 8 de julho de 2016

Liora K. - The Feminist Project

Liora gosta de contar histórias com os seus trabalhos fotográficos. É feminista, e produz a sua arte com o objectivo de mudar mentalidades. 
A fotografia não é só um trabalho, é uma forma de mostrar o que acredita e defende perante o mundo.
Nasceu em 1988 e foi criada em New Jersey no seio de uma família de Judeus. Diz que sempre foi uma boa leitora e uma péssima oradora. Talvez por isso tenha optado pela fotografia, que fala por ela.
O feminismo faz parte da sua vida pois não consegue acreditar que sejamos definidx pelo que temos no meio das pernas. Considera-se uma feminista interseccional e diz acreditar no poder do mesmo. 

Conheci Liora K e o seu trabalho devido ao seu projecto "Feminist Project"

Interseccional ou não, a verdade é que estas são imagens poderosas e marcantes:
Frases feministas escritas em corpos de mulher nus. 
Imagens para algunx consideradas chocantes, para outrx necessárias e empoderadoras.

O projecto surgiu quando a artista se apercebeu do machismo existente no mundo em que vivia; numa altura em que se falava muito do aborto e em que as violações sexuais eram cada vez mais recorrentes (2012).
Liora sentiu a necessidade de produzir uma resposta imediata e impactante usando a sua arte. 

A artista não pode ser considerada um ícone feminista, mas a sua arte é!
Por isso seguimos para algumas das fotos do seu projecto feminista. 

Podem encontrar todas as fotos no álbum do nosso facebook .












Liora é também uma activista pelos direitos LGBTQ+ 

"Feminism is not just about advocating for women, but about advocating for those who are being denied equal rights... one group cannot advance in their cause without supporting others who are in the same sitiation"



UmaCabeleireiraFeminista



sexta-feira, 24 de junho de 2016

PRIDE 2016

No próximo dia 2 de Julho realiza-se a Marcha LGBTQ+ 2016 no Porto, pelas 15horas com início na Praça da República.






Este movimento começou por se chamar GLS (gays, lésbicas e simpatizantes) que mais tarde evoluiu para LGBT (lesbicas, gays, bissexuais, transsexuais e transgéneros). Hoje, usa as siglas LGBTQIAPD ou LGBTQ+ , um termo muito mais abrangente que envolve lésbicas, gays, bissexuais, transsexuais, trânsgeneros, queer, interssexuais, assexuais, panssexuais e demissexuais.



A marcha surgiu em Stonewall, quando, na década de 60, um bar frequentado por gays e lésbicas foi invadido pela polícia. Inocentes foram agredidos e presos, o que revoltou a comunidade. Nesse mesmo ano, em 28 de Junho mais de 2000 pessoas invadiram as ruas como protesto ao acontecimento. Desde então o dia 28 de Junho é o dia oficial do orgulho gay e nesse mesmo mês são organizadas paradas e marchas por todo o mundo


Qual o significado da marcha LGBTQ+ e porque é importante?

A parada tem como objectivo conscientizar as pessoas da diversidade existente na sociedade e que todos merecem, para além de respeito, os mesmos direitos. 
A marcha LGBTQ+ é também um espaço de visibilidade das comunidade não heterossexual e onde todos nos sentimos seguros e apoiados.  Vamos mostrar a todos que estamos aqui prontos para lutar pelos nossos direitos e que ninguém nos vai impedir... ao mesmo tempo que celebramos o amor e a diversidade.
É um evento contra a LGBTQ+fobia que infelizmente ainda faz parte do nosso coitidiano. 

Este ano é principalmente importante, depois do ataque lgbtfóbico em Orlando, que nos mostrou que o ódio ainda consegue vencer ao amor.


LISBOA 2016




COLOMBIA 2016




BRASIL 2016


ÍNDIA Dezembro 2015


Em breve no Porto. Apareçam. São todos bem vindos.
Contra a discriminação. 
Pela igualdade. 



 UmaCabeleireiraFeminista

quarta-feira, 22 de junho de 2016

A culpa

Lembro-me daquele dia na escola em que fui convidada para participar naquele jogo divertido.
Não era suposto fazer mal, não era suposto fazer sentido.
Era só um jogo... divertido.

Afinal não era só um jogo.
Ou pelo menos não para eles.
Talvez uma tentativa de atear o fogo?


Foi uma "cilada".
A que um dia me encheu de lágrimas ... 
E hoje me dá poder!


São as experiências que nos fazem erguer, corrigir os erros e aprender.
São estas "ciladas" que nos dão poder, porque nos fazem crescer.

Eu era apenas uma adolescência na descoberta do meu corpo. 
Era desinibida e inocente. Inocente apenas no sentido em que achava que podia fazer e dizer o que quisesse sem consequências. 
Não enxergava o mundo como hoje. Via-o pacífico e sem preconceito.
Então pronto... eu e umas amigas decidimos ir jogar um jogo com (na maioria) rapazes da nossa turma. 

- Muito resumidamente, o jogo consiste em dar beijos e essas coisas de adolescente dos anos 90 -


A "cilada" capturou-me num ápice.
Bastou uns beijos e uns apalpões.
E ela torturou-me durante anos.

Primeiro foram eles...
Depois vieram elas...

Como se aquilo resumisse tudo o que eu sou... tudo o que eu algum dia fui.
Como se aquele jogo, aquela brincadeira, aquele acto de pura liberdade, fizesse de mim menos digna.

Eu era a puta, eu era a vaca.
Eu era aquela que todos olhavam de lado...
Todos queriam foder, mas ninguém queria amar.

Provavelmente achavam-me promíscua...
Mas a criança ainda nem sequer sabia se gostava de homens ou mulheres!
Eu nem sequer sabia que podia simplesmente nunca vir a amar... ou amar múltiplas vezes ou múltiplas pessoas.


A culpa transformou a minha mente.
Ela mudou o meu corpo.
Conseguiu apoderar-se de mim de maneira a que as minhas acções e atitudes fossem sempre ao seu encontro.

A culpa.
Ela gere a nossa vida.
Faz-te sentir menor.
Faz-te habituar a sentir sofrida.

Habituar ao sentimento
De que tudo o que sentes por dentro 
Faz de ti o julgamento


Essa culpa parecia infinita mas um dia começou a desvanecer e hoje ela já não mora cá dentro.
Vocês que um dia me transformaram num ser pequeno e quebrado, contribuíram para que hoje, esse ser esteja composto e reforçado. 


Hoje luto para que mais nenhuma menina se sinta culpada. 
Luto para que eles nunca mais nos julguem. 
Para que eles não nos acusem. 
Para que eles não nos culpem.
Para que eles não nos violem.
Para que eles não nos agridam.
Para que eles não nos matem.

Hoje luto pela morte do machismo.

Porque foi ele que me fez sentir culpada.

E foi o feminismo que matou a minha culpa.



UmaCabeleireiraFeminista

domingo, 19 de junho de 2016

Como falar com sua filha sobre seu corpo: Não fale

Vagueando pelo facebook dei de caras com este texto que decidi partilhar com vocês pois achei fantástico:

"Como falar com sua filha sobre seu corpo, passo um: Não fale com sua filha sobre seu corpo, exceto para lhe ensinar como ele funciona.
Não diga nada se ela perdeu peso.
Não diga nada se ela ganhou peso.
Se você acha que o corpo de sua filha parece incrível, não diga isso. Olha algumas coisas que você pode dizer em vez disso:
"Você está tão saudável!" é ótimo.
Ou talvez, "Você parece tão forte."
"Eu vejo como você está feliz. Você está brilhando."
Melhor ainda seria elogiá-la em algo que não tem nada a ver com seu corpo.
Não comente sobre os corpos de outras mulheres também. Não. Nem um único comentário, não um comentário agradável ou um comentário maldoso.
Ensine-a a ser bondosa para com os outros e também bondade para com ela mesma.
Não se atreva a falar sobre o quanto você odeia seu corpo na frente de sua filha ou falar sobre sua nova dieta. Na verdade, não faça dieta na frente de sua filha. Compre comida saudável. Cozinhe refeições saudáveis. Mas não diga: "Eu não estou comendo carboidratos agora." Sua filha nunca deve pensar que os carboidratos são ruins, porque vergonha sobre o que você come só leva a vergonha sobre si mesmo.
Incentive sua filha a correr para sentir-se melhor. Incentive sua filha a escalar montanhas pois não há lugar melhor para explorar sua espiritualidade do que o pico do universo. Incentive sua filha a surfar, ou escalar, ou moutain bike porque isso a assusta e as vezes é uma coisa boa!
Incentive a sua filha a amar futebol ou Hockey ou Remo pois esportes vão ajudá-la a ser uma líder melhor e uma mulher mais segura.. Explique-lhe que não importa quantos anos você tem, você nunca vai parar de precisar de um bom trabalho em equipe. Nunca a obrigue a jogar um esporte que não goste.
Prove a sua filha que as mulheres não precisam de homens para mover seus móveis.
Ensine sua filha a cozinhar couve.
Ensine sua filha a assar bolo.
Passe a ela a receita de bolo de Natal da vó. Passe a ela o seu amor por estar fora de casa.
Talvez você e sua filha tenham coxas grossas ou costelas largas. É fácil odiar essas partes do corpo que não são tamanho-zero. Não odeie. Diga a sua filha que, com suas pernas, ela pode correr uma maratona se ela quiser, e sua caixa torácica não é nada além de uma proteção para fortes pulmões. Ela pode gritar e ela pode cantar e ela pode levantar-se do mundo, se assim quiser.
Relembre a sua filha que a melhor coisa que pode fazer com o seu corpo é usá-lo para movimentar a sua bela alma."
~ Sarah Koppelkam





sábado, 18 de junho de 2016

Juntas



Mana dá-me a mão
Vem comigo caminhar
Não olhes para o chão
Pra frente deves olhar

Gritamos em conjunto
Sentimos a mesma dor
Amiga vamos junto
Partilhar o nosso amor

A luta continua
Para toda a mulher
E se eu quiser ir nua
Ele não mete a colher

Contigo não tenho medo
Contigo eu estou segura
Contigo de mãos dadas
Eu travo esta luta dura

Mana do coração
Vens comigo caminhar
Não olhamos para o chão
Para a frente é o lugar




UmaCabeleireiraFeminista

domingo, 12 de junho de 2016

O estereótipo que magoa




Mais um dia no salão, mais uma reflexão...

Sou sempre a favor da liberdade de escolha, principalmente no que diz respeito às crianças. Acho que só assim aprenderão a tomar decisões e a viver com elas. Vejo, no entanto, muitos pais e mães que obrigam os filhos a fazer certas coisas. E não estou a falar de coisas obviamente obrigatórias, tipo ir para a escola, mas de coisas básicas, como cortar o cabelo.

Ontem no salão uma mãe levou a filha, que devia ter aproximadamente 6 anos, para cortar o cabelo. Enquanto esperavam ouvi algumas conversas entre ambas e era óbvio o desagrado e a tristeza da menina que não queria, de todo, cortar o cabelo. 
Antes do corte a menina especificou à mãe que queria cortar apenas as pontas, no entanto e entre dentes, a mãe pediu à cabeleireira para cortar o cabelo pelos ombros.

Deu-se de seguida um pranto de lágrimas que só desvaneceu dos meus ouvidos à medida que as duas foram saindo porta fora...

A tristeza da criança era dolorosa de assistir.
 Consegui notar no seu olhar o quanto aquilo a magoou... O quanto ela odiou a mãe (e a cabeleireira) naquele momento... O quanto aquilo a marcou para a vida... E marcou mesmo, acreditem!

Como cabeleireira assisto muitas vezes a raparigas com 17, 18 anos e até bem mais de 20 que se recusam a cortar o cabelo devida a experiências de infância. Acho que todas(os) nós conhecemos alguém assim.

No decorrer deste acontecimento, e como feminista que sou, muitas foram as questões que me passaram pela cabeça.

Acredito que naquele momento aquela menina estivesse a sentir que estava a perder a sua feminilidade... que deixou de ser bonita... que parece um rapaz. 
E porquê?
Porque, provavelmente, a mesma mãe que hoje a obriga a cortar o cabelo, ontem, e durante toda a infância a ensinou a saber "ser uma menina", "parecer uma menina", "agir como uma menina" .
Se o estereótipo de menina bonita e perfeita não estivesse na cabeça da criança, a reacção talvez não fosse esta... talvez ela própria quisesse cortar o cabelo! Como eu quis!

Porque o nosso aspecto não define quem nós somos, não define o nosso género e muito menos a nossa sexualidade!

Porque todos os pais e mães deviam ensinar os filhos a ser seres humanos e apenas isso!

Porque a igualdade provém da desconstrução desde a infância!

Porque a igualdade nos dá liberdade!

Porque ainda precisamos de lutar!



UmaCabeleireiraFeminista

sexta-feira, 10 de junho de 2016

O meu passado gordofóbico



Todos nós temos um passado do qual nos envergonhamos mas que, certamente serviu, para o nosso crescimento pessoal e intelectual. Nesse meu passado conturbado e envergonhado está algures a gordofobia.

Por volta dos meus 10 anos, o meu pai morreu e fiquei a viver apenas com a minha mãe e o meu irmão. Calculo que, na sequência de tais acontecimentos, a minha mãe tenha entrado numa depressão. Depressão essa que acredito nunca ter sido curada. 
Os anos passaram e eu comecei a entrar na adolescência... comecei a reparar nos hábitos alimentares de minha casa e na importância que a minha mãe dava à magreza das pessoas. 

Com 13/14 anos o meu estômago estava sempre com fome... só queria comer, principalmente chocolates, batatas fritas e essas "porcarias" (como dizia a minha mae). 
Isso tudo eu comia fora de casa, pois sempre que estava a comer demais em frente à minha mãe ela fazia questão de me avisar para parar antes que "ficasse gorda" e depois me "viesse queixar". 
Durante todo esse tempo, entre anorexias e bulimías, desprezei os gordos.
O meu maior medo, imaginem só, era ser gorda! 
Para mim ser gordo era nojento e pouco saudável. Achava que os gordos não deviam ter direito a trabalhar em locais públicos nem servir ás mesas pois andam muito devagar. Era aquela que comentava "como é que aquele anda com aquela gorda?" (ou vice versa). 
Eu comentava... toda contente e apoiada, aliás, incentivada e criada assim pela minha mãe. A pessoa que ainda hoje critica a/o gorda/o que está no café a comer um bolo; uma das que acha que o gordo não faz nada, é um parasita da sociedade... que "era mais bonita se fosse mais magra"...

Ah, e para quem acha que quem tem amigo gay não é homofóbico: eu tinha amiga gorda e a minha mãe também tem.

Hoje sinto-me horrível por algum dia ter sido assim. 
Hoje sei e assisto à gordofobia existente na nossa sociedade e não percebo porque alguém haveria de julgar o outro pelo seu peso. Mas a verdade é que já eu própria o fiz. 
É difícil a desconstrução, mas o primeiro passo será sempre reconhecer para nós próprios e encarar a realidade. Desconstruir mitos, entender o oprimido e educar o opressor.

Se eu consegui, qualquer um pode conseguir... basta querer!

Pela minha mãe, peço desculpa. E pelo meu passado também.


UmaCabeleireiraFeminista

quarta-feira, 1 de junho de 2016

Um dia de luta

POR TODAS ELAS 

POR TODAS NÓS

AMOR E UNIÃO ENTRE IRMÃS DIA 1 DE JUNHO DE 2016


MACHISMO NÃO PASSARÁ!

CONTRA A CULTURA DA VIOLÊNCIA SEXUAL. SEMPRE!!!

SÃO PAULO - BRASIL

SÃO PAULO - BRASIL


LISBOA - PORTUGAL


LISBOA - PORTUGAL

PORTO - PORTUGAL 

PORTO - PORTUGAL

ARACAJU - BRASIL

UmaCabeleireiraFeminista

segunda-feira, 30 de maio de 2016

Por todas elas. Por todas nós.


Uma rapariga foi violada por mais de 30 homens.
Uma adolescente.
No Brasil.
Era prostituta.
Não sei porquê isso tornou-se a desculpa.
O vídeo do acto foi divulgado na internet.
Milhares de homens nojentos partilharam (e algumas mulheres também).
Ela era toxicodependente.
Era prostituta.
Dizem que gostou.
Mas a verdade é que aquilo foi uma violação.
Nao percebem a diferença entre sexo consentido e uma violação.
É por isso que o mundo está empregnado de machismo.
É por isso que justiça não é feita.
Mais uma vez...a culpa é da vítima.
Por isso é que ainda precisamos de lutar!
Em todo o mundo estão a ser organizadas manifestações.
No Brasil já começaram. Em Portugal vão começar.
Conto com voces todas(os) dia 1/6 no Porto, Coimbra em Lisboa. Vamos lutar contra a cultura do estupro, contra o machismo, por todas elas e por todas nós.
Por um mundo feminista!
Um #junhofeminista.



UmaCabeleireiraFeminista

sexta-feira, 27 de maio de 2016

Eu estava a pedi-las


Esta tarde, ía eu a pé para o trabalho quando ouço, vindo de um carro, um grunhido estranho que parecia o barulho de um beijo. Olho para o lado e era um velho qualquer nojento que se tinha dado ao trabalho de abrandar o carro para me mandar um beijo. 
Um homem que não me conhecia de lado nenhum. 
Ignorei. Ele continuou... 
e como já é meu costume nestes casos, fiz-lhe um manguito, gritei uns insultos quaisquer e continuei o meu caminho. 

Isto acontece-me várias vezes. 
Quando era mais nova sentia-me tão mal e envergonhada com estas situações que só queria um buraco para me esconder. 
Hoje em dia sinto nojo. 
Não de mim. Desses gajos que não sei por alma de quem, acham que têm o direito de invadir o meu espaço e das outras mulheres que vão na rua para, segundo eles, nos elogiarem. 
Pois para mim isso não foi nenhum elogio. Para mim isso é assédio. 
Foi assédio!

O pá... pensando bem... a culpa foi minha! Eu é que tinha a manga do casaco descaída e via-se o meu ombro sexy. Nenhum homem conseguia resistir.

UmaCabeleireiraFeminista

quinta-feira, 26 de maio de 2016

O quotidiano de uma cabeleireira feminista



ATENÇÃO anti-feministas: 
Sou cabeleireira, adoro arranjar cabelos, adoro moda e estética e gosto de me maquilhar mas sou feminista! 
Como será isso possível se as feministas não se podem maquilhar nem andar de saltos altos, quanto mais arranjar o cabelo de mulheres que só são felizes depois de um bom brushing?! 
Espantem-se: É possível.
Este post não serve para vos explicar nada sobre a liberdade de escolha. Foi só um aparte, uma piadinha de bom gosto.

Ser cabeleireira e feminista é sem dúvida um desafio, mas por outros motivos. 
Num salão de cabeleireiro não se arranjam só cabelos, compõem-se almas... umas tristes, algumas brevemente preenchidas, outras apenas vazias! 

São comuns os comentários sexistas, tal como no nosso dia-a-dia, em qualquer estabelecimento, a qualquer hora do dia.
A diferença é que nos outros sítios eu posso ignorar, mas no meu local de trabalho não tenho para onde fugir. Principalmente porque as clientes têm tendência para nos pedir opinião sobre os mais diversos assuntos. No fundo, garanto-vos, elas não querem a nossa verdadeira opinião, elas só querem que eu concorde com elas e lhes dê razão e isso para mim... é o verdadeiro martírio. 
À medida que vou conhecendo as minhas clientes vou percebendo as suas diferenças. Consigo apontar quais as mais retrógradas, com as quais o melhor é mesmo estar calada e abanar com a cabeça; aquelas com uma mente mais aberta, as que até querem saber a minha opinião; e aquelas que nem são carne nem peixe e com essas vale mesmo a pena falar pois ficam a pensar no assunto.

Vou-me apercebendo que o machismo está como que plantado na cabeça das pessoas de tal maneira que ás vezes tenho a impressão que algumas precisavam de morrer e nascer de novo, e só assim conseguiam alcançar. O problema está no facto de não verem o problema; de não se aperceberem que o são. Admitir será sempre o primeiro passo para se começar a desconstrução. 

O comentário mais comum que ouço no salão é relativo ao aspecto das mulheres a partir de certas idades. A conversa, por norma, começa devido ao meu cabelo. Geralmente olham e observam durante um tempo, de seguida elogiam... e depois vem o "mas..." e começa a verdadeira "discussão" ! 

-"Fica-lhe muito bem mas isso é a si que é nova..." 

- "Mas porque? eu adoro ver velhinhas de cabelo colorido além disso vou ser assim para sempre" 

- "Ah isso é o que você diz... depois vai ver que fica ridículo!" 

- "Não acho, veremos :)"

- "Ai já viu? As vezes vejo cada uma, para aí com 60 anos e de mini saia, só lhes faltava o cabelo cor de rosa também" "Uma mulher tem de se saber pôr no seu lugar" 

Quando tenho o cabelo branco:
- "Eu assim parecia uma velha"

- "mas há tantos homens de cabelo branco e não parecem velhos"

- "Um homem é diferente, nunca parece tão velho como uma mulher" (Tipo... REALLY?)


Bem, acho que chega para perceberem o quão chato isto é para uma pessoa como eu. Custa-me ainda muito ouvir isto de algumas pessoas nas quais deposito alguma esperança... porque são mais novas, mais 'abertas' ou simplesmente mais simpáticas. Nesta altura percebo: "menos uma". 
Será que vai chegar o dia em que tudo isto me é indiferente (dentro do salão), ou será que vou continuar a gastar o meu latim? 

UmaCabeleireiraFeminista

quarta-feira, 25 de maio de 2016

As Anti-feministas


Com o crescimento do movimento feminista nos últimos anos, cresceu também o movimento anti-feminista. As anti-feministas estão em voga, elas opõem-se ás ideologias feministas, contrariando-as afincadamente.

Neste post eu vou falar apenas no feminino. Vou falar de mulheres anti-feministas porque são elas que deviam entender o movimento, são elas as oprimidas, são elas o "sexo fraco", são elas as "mulherzinhas"... não eles.

Em pesquisa no facebook, Twitter e até no google, podemos encontrar várias páginas que apoiam o movimento anti-feministas, bem como artigos de anti-feministas famosas com as suas próprias ideologias.

Uma delas é a Brasileira ex-feminista, ex-nazi, ex-sei lá o que mais, Sara Winter:

Sara participou na criação do grupo feminista Femen e foi fundadora de outros movimentos feministas até que certa altura, em 2015, renegou a tudo o que antes defendera e começou a sua militância contra o feminismo. A, agora Cristã, Sara Winter revelou mais tarde que as feministas a obrigavam a ser lésbica e fazer abortos, entre outras coisas... (W?H?A?T?) !

Sara é agora uma mulher pró-vida, cristã e mãe, que até já escreveu uma bibliografia chamada "Sete vezes que fui traída pelo feminismo". É famosa, recatada e do lar, só que não. Infelizmente esta mulher é um ídolo para muitas jovens que sem saber no que consiste realmente o Feminismo, seguem Sara e o seu movimento (se não pensar nisso até dá vontade de rir).

As anti-feministas têm mil e uma razões e justificações para o seu movimento; No entanto e na minha opinião, metade delas está completamente enganada em relação à definição de Feminismo, e a outra metade é retrógrada e católica.

Em vez de escrever decidi colocar aqui mesmo umas imagens com as caras e frases das ditas anti-feministas. Assim talvez consigamos compreender as suas razões... eu vou pelo menos tentar.

Eu não sou feminista porque:

 

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1. Sou contra o aborto porque Deus é que manda na vida.

 

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2. Se eu beber demais e for violada a culpa é minha porque estava vulnerável e "homem é homem".

 

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3. Eu adoro quando vou na rua descontraída e homens entram no meu espaço sem eu dar autorização para me chamarem de gostosa.

 

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4. A mais famosa: Porque eu NÃO odeio homens.

 

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5. Acredito que todo o homem deve trabalhar para sustentar a família e toda a mulher deve ficar em casa a cuidar dos filhos e obedecer ao marido porque esses são os seus papeis, provavelmente ditados por Deus, algures na bíblia.

 

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6. Quero ser amiga de homens e se for feminista não posso.

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7. Se for violada ou mal tratada de qualquer forma não devo contar nem fazer queixa pois isso seria vitimizar-me. Além disso vivemos numa sociedade onde os homens e as mulheres já têm os mesmos direitos.

 

Elas têm todas algo em comum: são conservadoras e não conseguem aceitar o mundo em que vivemos agora; não aceitam a evolução e são as que dizem "este mundo está perdido" e "já nada é como antes". São mulheres que viviam bem na escuridão, mulheres que se contentam.

Segundo elas, já não há cavalheirismo e os homens não respeitam as mulheres porque elas não se dão ao respeito.

Antigamente é que era! A mulher obedecia toda contente, tratava da casa e das crianças e à noite fazia o servicinho para agradar o marido. Todas casavam virgens e claro por isso, dizem elas, não havia prostituição (o que obviamente sabemos que é mentira). Ele ficava feliz, trazia o dinheirinho para casa e elas não tinham nada com que se preocupar.

A estas mulheres podia dizer muita coisa, podia tentar explicar o quanto somos injustiçadas, mandar ler um livro sobre estatísticas ou ver um filme sobre a ascendência do movimento, mas de nada ía adiantar, nem para elas, nem para nós. É preciso existir sororidade* entre as irmãs, é preciso haver paciência e vontade de amparar aquela que um dia vai caír e precisar da nossa ajuda.

Já me disseram a mim, que nós feministas desejamos até que outras mulheres sejam violadas para se juntarem a nós.

Não! Nós simplesmente sabemos que toda a mulher sofre com opressão e machismo no dia-a-dia; nós simplesmente sabemos que toda a mulher é feminista, só não sabe o que é o feminismo; nós sabemos que algumas se acham privilegiadas pelo machismo mas que um dia irão perceber a opressão que vem junto; Nós simplesmente sabemos que todas as mulheres querem igualdade de género (mesmo que ainda não tenham percebido); e sabemos que o feminismo, embora possa ir muito mais longe, defende a igualdade de género. Por isso parem de ser do contra porque está na moda; parem de ser anti-feministas porque gostam de se maquilhar e andar de salto alto; parem de nos odiar porque não querem ser lésbicas nem fazer abortos.

Isso não é o feminismo.

O feminismo não vos odeia, o feminismo defende-vos.

Nós defendemos a mulher.

E é por isso que ainda precisamos de lutar...

"Nem santa, nem puta, apenas Mulher!"

 


*Pacto entre as mulheres que são reconhecidas irmãs, sendo uma dimensão ética, política e prática do feminismo contemporâneo.
UmaCabeleireiraFeminista
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