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segunda-feira, 15 de agosto de 2016

Uma carta de S. (sobre violência psicológica)


A violência contra a mulher nas relações amorosas aumenta de dia para dia:

Jovens e adultxs acham normal proibir as namoradas de sair com as amigas; "cuscar" as mensagens do telemóvel ainda mais normal é; usar decotes quando se é comprometide é quase uma traição, e insultar a companheira quando se está chateade é mais um acto comum...

Acho que nunca é demais o contacto com esta realidade.
Conhecer pessoas e as suas histórias, pode ser um abre olhos para muitas outras nesta mesma situação, um apoio, ou um simples "não estás sozinhe" .

A violência psicológica é muitas das vezes vista como "não tão grave" como a violência física, e talvez também por isso, muitas vítimas nunca cheguem a apresentar queixa.
No entanto, a realidade é que a violência psicológica deixa marcas irreversíveis e, por vezes, pode ser ainda mais grave do que a física, a qual também nunca vem sozinha.

Hoje tenho a carta de uma leitora, a qual vamos chamar de S.
Este um caso de violência mas também de libertação.

"Eu podia começar por dizer que este relacionamento começou como qualquer outro, mas a verdade é que não foi assim. Começou num cenário de infidelidade por parte da outra pessoa e, como eu digo sempre, não se pode construir nada de positivo e


duradouro em cima de alicerces podres.
Apesar disso, no início as coisas correram de uma forma relativamente tranquila. Não tardou muito até começarem os ataques de ciúmes da parte dela por causa de coisas que eu punha no facebook ou de comentários que eu fazia publicamente no meu mural. Chegou a um ponto em que começou a implicar tanto com algumas pessoas que estavam nas minhas amizades e eram mais participativas que me levou a bloqueá-las. Manipulou-me de uma forma que me levou a deixar de falar com toda a gente. Isolei-me de toda a gente e ela era a única pessoa com quem eu falava. Isto, claro, quando, ela tinha tempo pra mim porque sempre manteve o casamento e eu quase não podia estar com ela. Desde muito cedo ela me dizia que ia deixar o casamento, que não se sentia feliz e que queria ficar comigo. Fez-me acreditar que valia realmente suportar o sacrifício da espera. Só que comecei a achar que aquilo era só conversa e que ela nunca iria mudar a situação. Comecei a sentir-me como a típica amante que só se encontra às escondidas em quartos de hotéis manhosos. Comecei a sentir-me usada. Sentia que os planos de futuro dela não me incluíam. Nunca fizemos nada juntas. Nunca fomos ver montras, nunca fomos ao cinema, nunca fomos almoçar ou jantar fora juntas... nada. E comecei a cobrar. Comecei a exigir mais. E aí ela começou a rebaixar-me, a inverter os papéis. Dizia que eu lhe fazia a vida num inferno, simplesmente porque eu queria viver. Eu queria poder viver um amor pleno e não ficar apenas a viver dos restos de outra pessoa. Quando eu lhe dizia que queria sair mais de casa, que precisava de falar com pessoas, ela ameaçava terminar comigo. E eu acabava por ficar prisioneira de uma situação completamente doentia. E passava dias a fio em casa, sozinha, a mendigar mensagens de texto dela quando lhe apetecia mandar alguma. Fez-me sentir a pior pessoa à face da Terra, fez-me sentir que eu é que estava errada, que eu é que era nociva, quando na realidade era ela que estava a viver uma vida dupla, com um casamento e um relacionamento extra conjugal comigo. Acusou-me das piores coisas e vivemos um verdadeiro inferno de trocas de insultos e acusações por mais de 3 meses. Apaguei os contactos dela mas ela voltava sempre para mais acusações e insultos. Não me queria nem me deixava seguir em frente. Parecia que sentia prazer em me fazer mal. Em me humilhar. Até que por fim ela me disse coisas como "não és nada pra mim" e "foste a maior desilusão da minha vida". Isso realmente foi o ponto final de tudo pra mim. Ganhei-lhe uma raiva de morte e decidi nunca mais falar com ela. Ainda estou a reconstruir a minha auto-estima, que ela destruiu completamente. Não sei se algum dia amarei de novo, mas sei que não quero mais aquela vida pra mim." S.

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sexta-feira, 10 de junho de 2016

O meu passado gordofóbico



Todos nós temos um passado do qual nos envergonhamos mas que, certamente serviu, para o nosso crescimento pessoal e intelectual. Nesse meu passado conturbado e envergonhado está algures a gordofobia.

Por volta dos meus 10 anos, o meu pai morreu e fiquei a viver apenas com a minha mãe e o meu irmão. Calculo que, na sequência de tais acontecimentos, a minha mãe tenha entrado numa depressão. Depressão essa que acredito nunca ter sido curada. 
Os anos passaram e eu comecei a entrar na adolescência... comecei a reparar nos hábitos alimentares de minha casa e na importância que a minha mãe dava à magreza das pessoas. 

Com 13/14 anos o meu estômago estava sempre com fome... só queria comer, principalmente chocolates, batatas fritas e essas "porcarias" (como dizia a minha mae). 
Isso tudo eu comia fora de casa, pois sempre que estava a comer demais em frente à minha mãe ela fazia questão de me avisar para parar antes que "ficasse gorda" e depois me "viesse queixar". 
Durante todo esse tempo, entre anorexias e bulimías, desprezei os gordos.
O meu maior medo, imaginem só, era ser gorda! 
Para mim ser gordo era nojento e pouco saudável. Achava que os gordos não deviam ter direito a trabalhar em locais públicos nem servir ás mesas pois andam muito devagar. Era aquela que comentava "como é que aquele anda com aquela gorda?" (ou vice versa). 
Eu comentava... toda contente e apoiada, aliás, incentivada e criada assim pela minha mãe. A pessoa que ainda hoje critica a/o gorda/o que está no café a comer um bolo; uma das que acha que o gordo não faz nada, é um parasita da sociedade... que "era mais bonita se fosse mais magra"...

Ah, e para quem acha que quem tem amigo gay não é homofóbico: eu tinha amiga gorda e a minha mãe também tem.

Hoje sinto-me horrível por algum dia ter sido assim. 
Hoje sei e assisto à gordofobia existente na nossa sociedade e não percebo porque alguém haveria de julgar o outro pelo seu peso. Mas a verdade é que já eu própria o fiz. 
É difícil a desconstrução, mas o primeiro passo será sempre reconhecer para nós próprios e encarar a realidade. Desconstruir mitos, entender o oprimido e educar o opressor.

Se eu consegui, qualquer um pode conseguir... basta querer!

Pela minha mãe, peço desculpa. E pelo meu passado também.


UmaCabeleireiraFeminista