sexta-feira, 10 de junho de 2016

O meu passado gordofóbico



Todos nós temos um passado do qual nos envergonhamos mas que, certamente serviu, para o nosso crescimento pessoal e intelectual. Nesse meu passado conturbado e envergonhado está algures a gordofobia.

Por volta dos meus 10 anos, o meu pai morreu e fiquei a viver apenas com a minha mãe e o meu irmão. Calculo que, na sequência de tais acontecimentos, a minha mãe tenha entrado numa depressão. Depressão essa que acredito nunca ter sido curada. 
Os anos passaram e eu comecei a entrar na adolescência... comecei a reparar nos hábitos alimentares de minha casa e na importância que a minha mãe dava à magreza das pessoas. 

Com 13/14 anos o meu estômago estava sempre com fome... só queria comer, principalmente chocolates, batatas fritas e essas "porcarias" (como dizia a minha mae). 
Isso tudo eu comia fora de casa, pois sempre que estava a comer demais em frente à minha mãe ela fazia questão de me avisar para parar antes que "ficasse gorda" e depois me "viesse queixar". 
Durante todo esse tempo, entre anorexias e bulimías, desprezei os gordos.
O meu maior medo, imaginem só, era ser gorda! 
Para mim ser gordo era nojento e pouco saudável. Achava que os gordos não deviam ter direito a trabalhar em locais públicos nem servir ás mesas pois andam muito devagar. Era aquela que comentava "como é que aquele anda com aquela gorda?" (ou vice versa). 
Eu comentava... toda contente e apoiada, aliás, incentivada e criada assim pela minha mãe. A pessoa que ainda hoje critica a/o gorda/o que está no café a comer um bolo; uma das que acha que o gordo não faz nada, é um parasita da sociedade... que "era mais bonita se fosse mais magra"...

Ah, e para quem acha que quem tem amigo gay não é homofóbico: eu tinha amiga gorda e a minha mãe também tem.

Hoje sinto-me horrível por algum dia ter sido assim. 
Hoje sei e assisto à gordofobia existente na nossa sociedade e não percebo porque alguém haveria de julgar o outro pelo seu peso. Mas a verdade é que já eu própria o fiz. 
É difícil a desconstrução, mas o primeiro passo será sempre reconhecer para nós próprios e encarar a realidade. Desconstruir mitos, entender o oprimido e educar o opressor.

Se eu consegui, qualquer um pode conseguir... basta querer!

Pela minha mãe, peço desculpa. E pelo meu passado também.


UmaCabeleireiraFeminista

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