quinta-feira, 26 de maio de 2016

O quotidiano de uma cabeleireira feminista



ATENÇÃO anti-feministas: 
Sou cabeleireira, adoro arranjar cabelos, adoro moda e estética e gosto de me maquilhar mas sou feminista! 
Como será isso possível se as feministas não se podem maquilhar nem andar de saltos altos, quanto mais arranjar o cabelo de mulheres que só são felizes depois de um bom brushing?! 
Espantem-se: É possível.
Este post não serve para vos explicar nada sobre a liberdade de escolha. Foi só um aparte, uma piadinha de bom gosto.

Ser cabeleireira e feminista é sem dúvida um desafio, mas por outros motivos. 
Num salão de cabeleireiro não se arranjam só cabelos, compõem-se almas... umas tristes, algumas brevemente preenchidas, outras apenas vazias! 

São comuns os comentários sexistas, tal como no nosso dia-a-dia, em qualquer estabelecimento, a qualquer hora do dia.
A diferença é que nos outros sítios eu posso ignorar, mas no meu local de trabalho não tenho para onde fugir. Principalmente porque as clientes têm tendência para nos pedir opinião sobre os mais diversos assuntos. No fundo, garanto-vos, elas não querem a nossa verdadeira opinião, elas só querem que eu concorde com elas e lhes dê razão e isso para mim... é o verdadeiro martírio. 
À medida que vou conhecendo as minhas clientes vou percebendo as suas diferenças. Consigo apontar quais as mais retrógradas, com as quais o melhor é mesmo estar calada e abanar com a cabeça; aquelas com uma mente mais aberta, as que até querem saber a minha opinião; e aquelas que nem são carne nem peixe e com essas vale mesmo a pena falar pois ficam a pensar no assunto.

Vou-me apercebendo que o machismo está como que plantado na cabeça das pessoas de tal maneira que ás vezes tenho a impressão que algumas precisavam de morrer e nascer de novo, e só assim conseguiam alcançar. O problema está no facto de não verem o problema; de não se aperceberem que o são. Admitir será sempre o primeiro passo para se começar a desconstrução. 

O comentário mais comum que ouço no salão é relativo ao aspecto das mulheres a partir de certas idades. A conversa, por norma, começa devido ao meu cabelo. Geralmente olham e observam durante um tempo, de seguida elogiam... e depois vem o "mas..." e começa a verdadeira "discussão" ! 

-"Fica-lhe muito bem mas isso é a si que é nova..." 

- "Mas porque? eu adoro ver velhinhas de cabelo colorido além disso vou ser assim para sempre" 

- "Ah isso é o que você diz... depois vai ver que fica ridículo!" 

- "Não acho, veremos :)"

- "Ai já viu? As vezes vejo cada uma, para aí com 60 anos e de mini saia, só lhes faltava o cabelo cor de rosa também" "Uma mulher tem de se saber pôr no seu lugar" 

Quando tenho o cabelo branco:
- "Eu assim parecia uma velha"

- "mas há tantos homens de cabelo branco e não parecem velhos"

- "Um homem é diferente, nunca parece tão velho como uma mulher" (Tipo... REALLY?)


Bem, acho que chega para perceberem o quão chato isto é para uma pessoa como eu. Custa-me ainda muito ouvir isto de algumas pessoas nas quais deposito alguma esperança... porque são mais novas, mais 'abertas' ou simplesmente mais simpáticas. Nesta altura percebo: "menos uma". 
Será que vai chegar o dia em que tudo isto me é indiferente (dentro do salão), ou será que vou continuar a gastar o meu latim? 

UmaCabeleireiraFeminista

2 comentários:

  1. Estou a marimbar-me para esses preconceitos relacionados com a idade. Se gosto uso, se não, não uso. Tão simples quanto isso.

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